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Em algum momento no futuro, quando as histórias da arte do século vinte começarem a ser escritas com o sábio julgamento que só a distância do tempo presente confere, acredito que Stan Brakhage será lembrado não apenas como um dos maiores cineastas, mas como uma das figuras mais importantes de todas as artes. O total virtuosismo de seu trabalho, a beleza sensual das formas, cores e texturas de seus filmes, a criação de uma complexa e única forma de música visual (a maioria de sues filmes são silenciosos, porque a música vem da própria imagem), seu apelo ao espectador como indivíduo mais do que meramente um membro da multidão e a imprevisibilidade estática de seus espaços e ritmos garantem a importância monumental de seus cerca de 400 filmes, tanto individualmente quanto como um conjunto de suas obras.

Stan Brakhage (Fotografia: Robert Haller)

Este que é o mais famoso e influente de todos os cineastas “experimentais” ou "avant-garde" fez da luz seu principal tema, e seu interesse na luz vincula-se à sua vontade de recuperar aquilo que, reconheceu, nenhum adulto poderia jamais recuperar: a visão pré-lingüística de uma criança (“Quantas cores há em um campo gramado para um bebê não consciente do ‘Verde?”, uma famosa pergunta sua), um interesse que se transmutou em desejo de libertar os objetos e a luz de estruturas baseadas na linguagem.

Os filmes de Brakhage vibram entre uma série de pólos opostos, que nunca são tão opostos quanto parecem inicialmente. O principal entre eles são os dois sentidos que a luz e os objetos tem em seus filmes. Nós vemos as coisas através de suas formas reconhecíveis e nomeáveis – aquilo é uma mulher grávida em Window Water Baby Moving – e também, mesmo neste que é o mais documentário dos filmes de Brakhage, como um jogo de luz e formas, por exemplo sua ênfase poética na maneira como a luz é refletida pelas gotículas de água na barriga da mulher. Parte do objetivo de Brakhage é enriquecer a visão que os espectadores têm das coisas do cotidiano, ajudando-os a descobrir formas novas e imaginativas de ver as coisas.

A obra de Brakhage oferece uma alternativa eloquente e emocionalmente profunda para a cultura de consumo ocidental. Ele abjura emoções pré-digeridas, fórmulas previsíveis e “imagens bonitinhas”. Seus filmes não são redutíveis a resumos ou mensagens simples, e cada espectador os experimentará de forma necessariamente diferente. O espectador engajado é removido do estado mental no qual observar uma cena significa desejá-la, cobiçá-la, crer que a compreende e querer possuí-la: ao invés, Brakhage pede ao mesmo tempo muito menos e muito mais – pede que você dance com ela.